Saúde > Ideias e Provocações
Liberação da “pílula do
câncer”: avanço ou retrocesso?
Aprovação de projeto
de lei que libera a substância para tratamento do câncer divide opiniões. Saiba
o que pensam Marco Akerman, especialista em saúde pública e mental e o
oncologista Paulo Hoff, diretor do Icesp
Saúde!Brasileiros 14/04/2016 19:39, atualizada às
17/04/2016 13:44
O debate em torno do
uso e aprovação da fosfoetanolamina sintética no País, segundo lei
sancionada pela presidente Dilma na quinta-feira (14), para tratar o câncer
retoma a tensão entre ciência e senso comum, entre a experiência e a
metodologia científica. Saúde!Brasileiros foi perguntar a especialistas
como eles receberam a aprovação da fosfoetanolamina sintética dentro desse
contexto. Confira abaixo:
O caminho do meio – Marco Akerman, professor da Faculdade de Saúde
Pública da Universidade de São Paulo
Para o professor e
médico Marco Akerman, é preciso encontrar um caminho entre o conhecimento que
vem da experiência pessoal e o que vem da prática científica, um conflito
frequente entre a ciência e os pacientes. “Ambos são conhecimento, mas um é
aplicado e testado e o outro é singular, subjetivo e está inscrito no campo das
experiências”.
“Paulo Freire [considerado um dos pensadores mais notáveis na história
da pedagogia mundial] falava sobre teoria, prática e práxis. A teoria é o que
os cientistas querem: testes randomizados e duplos-cegos. Prática é só tomar o
remédio porque o vizinho me disse que o remédio é bom. A práxis é encontrar
esse ponto comum entre ciência e experiência do sujeito.”
Também chamado de “pílula da USP”, remédio é alvo de controvérsias.
Foto: Cecília Prado/USPEnfraquecimento do modelo regulatório – Paulo Hoff,
oncologista e diretor do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp)
O especialista vê a liberação da fosfoetanolamina sintética com
preocupação. “Entendo que o projeto foi feito com boa vontade, mas a forma como
foi aprovado pelos poderes Executivo e Legislativo cria um precedente perigoso
em termos de saúde pública no País”, disse à Saúde!Brasileiros.Para
Hoff, faltou mais calma aos legisladores. “A discussão da fosfoetanolamina
virou algo que transcende a medicina. O que o parlamento fez foi responder ao
clamor popular”, disse.
“Do ponto de vista da cidadania, acho triste, porque a
forma como se deu essa aprovação desafia a lógica, a ciência e a metodologia
científica e enfraquece o sistema regulatório e de vigilância sanitária.”
No momento,
o especialista aguarda a chegada da substância ao Icesp para dar início
aos testes em pacientes com câncer. Os primeiros resultados devem ser
divulgados cerca de seis meses após o início dos testes.
Como foi liberada a “pílula
contra o câncer”
A presidente Dilma sancionou a
lei que autoriza o uso da substância fosfoetanolamina sintética por
pacientes diagnosticados com tumores malignos, apesar dos pareceres contrários
da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A decisão foi
publicada quinta-feira (14) no Diário Oficial da União.
O argumento da lei é que
pacientes possam ter direito à escolha do tratamento em uma fase já avançada na
doença, desde que assumam os riscos. Já a Anvisa alertou que a aprovação
relâmpago do composto abala a credibilidade dos medicamentos no País e pode
colocar em risco a saúde pública.
A aprovação permite que
pacientes com tumores em fase terminal utilizem a substância, desde que assinem
termo de responsabilidade. A fosfoetanolamina não passou por todos os
testes clínicos necessários para o seu registro na Anvisa.
Até o momento, pesquisas realizadas em laboratório não apontaram eficácia da substância no tratamento da doença, mas os testes ainda estão em curso. O que foi comprovado in vitro (em células no laboratório) é que, na dosagem utilizada atualmente, a fosfoetanolamina não é tóxica para o organismo.
Até o momento, pesquisas realizadas em laboratório não apontaram eficácia da substância no tratamento da doença, mas os testes ainda estão em curso. O que foi comprovado in vitro (em células no laboratório) é que, na dosagem utilizada atualmente, a fosfoetanolamina não é tóxica para o organismo.
O texto do projeto de lei
aprovado foi proposto por 26 deputados, vários deles oposicionistas, e teve
tramitação muito rápida na Câmara e no Senado.
Link curto:
http://brasileiros.com.br/v3mzs
Tags: Akerman, câncer, fosfoetanolamina, Hoff
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